SWITCHED: MAIS UMA SÉRIE GATILHO PARA SUICÍDIO DA NETFLIX
As primeiras impressões não são tudo quando assistimos o trailer de Switched, a nova série original japonesa da Netflix. Principalmente porque ele aborda de forma leve e pueril o drama sobre a comutação das duas personagens centrais. A série à principio rapidamente e chocantemente estabelece uma premissa convincente, introduz personagens simpáticos e deixa claro que está levando a sério a si mesma e a seus temas. Esta é uma tendência que continua, reforçada por performances encantadoras e subtextos sociais sempre presentes, mesmo quando a trama gradualmente complicada ameaça ofuscar o drama baseado em personagens no núcleo da série.
Quando estava bisbilhotando o catálogo da Netflix, pensei que Switched fosse um filme, toda a estética visual faz parecer que é, até a divisão de apenas seis episódios na primeira temporada. Achei que fosse mais uma daquelas séries pra dormir enquanto assiste, até que me prendeu. A história avança rapidamente, com os primeiros 10 minutos de abertura definindo o tom e o ritmo do que deve ser seguido. Com o céu embranquecido sob uma lua vermelha, a estudante de segundo grau Zenko Umine (Miu Tomita) comete suicídio enquanto a colega Ayumi (Kaya Kiyohara) assiste horrorizada ao cair do telhado da escola para a morte.
Depois de desmaiar, Ayumi acorda e encontra-se presa no corpo de Umine. O que acontece a partir daqui é uma jornada que vê as duas garotas tentando se adaptar às suas novas vidas com seu colega de classe Kaga (Daiki Shigeoka) oferecendo uma âncora de empatia muito necessária para Ayumi.
Logo no primeiro episódio damos de cara com o suicídio de uma adolescente, a questão da troca de corpos (o que pra mim poderia ter sido abordado por um outro viés) é que pra ela acontecer as pessoas precisam se matar. O problema é que durante os seis episódios somos obrigados a assistir umas “trocentas mil vezes” pessoas cometendo suicídio, seja se atirando de prédios (eles realmente mostram até chegar lá embaixo e em câmera lenta) ou tomando remédios.
A série fala muito sobre bullying, gordofobia e depressão. Mas será que é uma conversa sobre questões do mundo real que afetam os adolescentes? Ou uma provocação perigosa que poderia ser fatal para jovens impressionáveis e vulneráveis?
Confira o trailer, abaixo:
O show dá bastante ênfase no sofrimento da personagem Zenko Umine, tanto na escola, quanto em sua própria casa. Os personagens estão constantemente lembrando uns aos outros que falar sobre essas questões é essencial para justificar a pessoa problemática e traumatizada que Umine se tornou, a ponto de querer acabar com a própria vida. Percebemos que sua vida era horrível. Sua mãe abusiva, ela vive na miséria e ocupa um corpo que, pelos padrões do adolescente japonês, é digno de ser ridicularizado; até a professora de Umine tira sarro de sua “barriga cheia” durante a aula.
O que faz de Switched um drama tão cativante é o modo como seus personagens podem crescer e evoluir em tão curto espaço de tempo. Quando a série termina, há uma sensação de satisfação, já que cada um dos principais jogadores recebe um arco decente, incluindo um final bem escrito. Todos os quatro personagens principais têm uma boa quantidade de tempo dedicada a seus impulsos e motivações, com flashbacks bem colocados e monólogos internos que ajudam a dar corpo a cada um deles, sem falar da atuação que é realmente boa.
O grande problema realmente foram as cenas de suicídios, por vezes desnecessárias, que geraram em mim um profundo desconforto e pode ser um gatilho emocional para quem sofre com problemas de depressão. O que talvez justifique essas cenas pesadas (só chutando, não tenho certeza), pode ser o fato da história ser baseada na série de mangá de 2014-15 Sora wo Kakeru Yodaka de Shiki Kawabata e eles quererem ser o mais fiéis possíveis ao enredo original.