O ABANDONO PODE AFETAR O PSICOLÓGICO DOS CÃES
Às vezes as pessoas se desfazem de seus amigos caninos porque acham que é a única solução possível. Talvez alguém com uma alergia grave a dogs se junte à família, e eles não percebam que essas alergias podem ser tratadas ou administradas com frequência. Às vezes as pessoas são separados de seus companheiros animais porque ficam muito doentes para cuidar deles. Muitas pessoas não sabem sobre a importância do planejamento antecipado para sua família animal, e assim seus companheiros de quatro patas acabam em algum abrigo.
O mais triste de tudo é quando as pessoas morrem sem ter feito arranjos para seus companheiros. Muitas vezes esses animais são idosos e não se adaptam bem ao ambiente. Alguns deles nunca saem do abrigo – eles estão assustados ou hostis, e acabam ignorados.
Todo abandono é ruim, mas pra mim, o pior é o abandono fútil. Minha vizinha tinha um lhasa chamado “Pìpoca”, ele era arteiro, lindo se dava super bem com meu Bartolomeu, o pai da dona dele, ia exclusivamente no prédio todas as tardes só pra passear com ele. Até que um belo dia ela doou o “Pipoca”, alegando que ele fazia muita bagunça e ficava sozinho. Fiquei em choque, já que ela tem uma filha de sete anos, e não resolveu doar quando começou a dar trabalho.
Ensinar e educar o cãozinho requer muito amor e paciência. Se desfazer dele por conta de comportamento demonstra uma desumanidade inigualável. O abandono animal pode causar danos psicológicos ao pet que podem ser difíceis de reparar. Segundo a Dra. Monique Rodrigues, veterinária e fundadora da Clinicão, a individualidade do animal, seu temperamento e hábitos devem ser respeitados. “A troca de tutor e o abandono faz com que a ansiedade e a insegurança se tornem uma ameaça constante, dificultando a adaptação aos diferentes ambientes. Ex. casa onde ele era criado sozinho e depois vai para um abrigo com vários outros cães no mesmo espaço. Isso confunde o animal, provocando reações inesperadas e dificuldades em socializar com a matilha”, ressalta.
O médico veterinário fundador da Pet Love, Márcio Waldman chama atenção para as consequências que podem incluir processos de auto mutilação conhecidos como dermatite psicossomáticas. “Existem técnicas utilizadas a algum tempo como sair da casa deixando uma luz acesa, um rádio ligado, uma peça de roupa usada com o cheiro do proprietário, uma bolinha ou brinquedinho para o pet se divertir. Geralmente essas técnicas funcionam na maioria dos casos, atualmente temos alguns produtos mais modernos como hormônios maternos que podem ser usado em filhotes com ansiedade da separação.
Os problemas comportamentais são a razão mais comum pela qual as pessoas desistem de seus cães e são a segunda razão mais comum para os gatos. Problemas comportamentais podem ser muito sérios, como morder ou agredir em cães. Mas, mais frequentemente, são problemas comuns de cães e gatos, como eliminação inadequada, destrutividade, latidos ou miados, ou não se dar bem com outros animais em casa. Às vezes, o problema é de expectativas inadequadas: “O gato não é amigável o suficiente” ou “O cão precisa de muita atenção”. A maioria das questões comportamentais pode ser corrigida, mas as pessoas podem não ter o conhecimento ou o compromisso necessário para realizar o trabalho.
Além de consultar veterinários, conversei com a Amanda Palma, adestradora e franqueada da Cão Cidadão.
Viviane Leone: Cachorros com histórico de mais de um abandono, conseguem ter uma vida normal?
Amanda Palma: Cães que são abandonados várias vezes sofrem traumas que podem afetar significativamente o comportamento deles. Mas há como trabalhar para melhorar essa situação, contando com o auxílio de um profissional de adestramento e comportamento animal. Com adestramento, conseguimos mostrar para o animal a melhor maneira dele lidar com os problemas, conquistar a confiança e fazer com que ele fique mais seguro e independente. Há muitos casos que se torna necessário associar o treinamento comportamental ao uso de medicamentos adequados e prescritos por médicos veterinários.
Viviane Leone: Como lidar com o medo de abandono que o cão pode sentir?
Amanda Palma: Primeiro é preciso muita paciência, pois o processo de adaptação não é fácil. Devemos garantir o bem-estar do animal no local onde ele vive, proporcionando um “cantinho” muito legal para que o cão se sinta confortável. Deixar objetos com o nosso cheiro e, se possível, deixar a Televisão ou o rádio ligado, tudo para amenizar o efeito das nossas saídas. Além disso, não devemos reforçar o medo de ficar sozinho. Podemos evitar isso, não fazendo uma baita festa ao chegar em casa ou uma grande despedida quando for sair. Se fizermos festa ao chegar e despedida ao sair, demonstraremos ao cão que ele deve se preocupar ao ficar sozinho e a ideia é justamente demonstrar que ficar sozinho pode ser legal e tem os seus benefícios. Para conseguir que o cão goste de ficar sozinho, vale a pena treinar pequenas “separações”, iniciando com saídas rápidas e somente voltar enquanto o cão estiver tranquilo. Para ajudar, é possível proporcionar coisas muito legais nesse “cantinho”, além de roupas com nossos cheiros, podemos oferecer, na hora de sair, brinquedos atrativos como os recheados com comida ou petiscos.
Viviane Leone: Cães hiperativos, qual a melhor maneira de lidar?
Amanda Palma:Muitas vezes, a hiperatividade é algo que já veio da genética do animal, mas também pode ser um comportamento “adquirido” devido a experiências de vida do animal. Para lidar com esse comportamento, é preciso muita paciência e treinamento. Uma das primeiras coisas que devem ser feitas é levar ao veterinário para fazer um check-up e identificar se a hiperatividade provém de algum problema de saúde. Os cães hiperativos precisam de mais atividades do que a maioria dos cães. É preciso garantir tanto atividades físicas como as atividades mentais regulares. Algumas dicas são: brinque com ele em casa, leve-o para passear todos os dias (se possível mais de uma vez no dia), se necessário contrate serviços de creches ou passeadores de cães e, também, considere contratar um adestrador profissional. O adestramento é uma atividade muito enriquecedora para o animal, além das orientações para os donos, de como lidar melhor com as situações e de como podemos suprir as necessidades deles. Ensinamos exercícios de autocontrole, ajudamos o animal a ter mais concentração e a entender melhor o que esperamos dele, ajudando assim, a diminuir a ansiedade. Adequar o ambiente em que vivem com estímulos diversos é fundamental. Enriquecer o ambiente com brinquedos que suprem necessidades instintivas, como: caçar, roer, destruir e se exercitar. Muitos brinquedos no mercado já são pensados para ser interativos, como os que liberam comida enquanto o animal brinca. Podemos também usar a criatividade e criar brinquedos com materiais reciclados, como por exemplo: uma garrafa pet. É importante também que os donos se prontifiquem a ensinar alguns comandos básicos de obediência, mostrando que em cada acerto ele é recompensado com carinho, atenção e comida. Vale a pena evitar fazer grandes festas nas chegadas e nas despedidas quando saímos de casa. Por mais difícil que seja ignorar nossos cães, temos que entender que atitudes como essa só potencializam a ansiedade e hiperatividade.
Você conhece alguém que desistiu de um animal? Deixe-me saber nos comentários o que aconteceu – e se pode ter havido alguma maneira de evitar isso.