“NÃO OLHE PARA CIMA” É SIMPLES E FAZ COM QUE A GENTE QUEIRA OLHAR!
Cientistas descobrem algo que afetará nosso planeta e nossas vidas de maneira fatal: um cometa gigantesco e em alta velocidade que se chocará com a Terra em poucos meses. Como a sociedade do século XXI reagiria? Será que acreditariam numa extinção global? Com um roteiro simples, “Não Olhe para Cima” (Don’t Look Up; 2021), disponível na Netflix, é uma comédia dramática que critica o negacionismo científico, a polarização política, o papel das redes sociais, da imprensa e até das celebridades. É aquele filme que chega para nós na hora e no momento ideais, beirando ao oportunismo e… Ainda bem.
Adam McKay (de “A Grande Aposta” [The Big Short; 2015] e “Tudo Por um Furo” [Anchorman 2: The Legend Continues; 2013]), que também escreve o roteiro com David Sirota, jornalista do The Guardian que trabalhou na campanha presidencial do Bernie Sanders em 2020, soube aproveitar a ocasião e acontecimentos reais dos últimos quatro anos no mundo para nos fazer enxergar o que muitos já sabem: se um cometa de uns cinco a 10 km de diâmetro estivesse mesmo vindo direto para a Terra, a nossa extinção seria muito plausível. Seria real.
O enredo não é original, não “inventa a roda”. O fim do mundo já foi retratado em dezenas de filmes. Alguns exemplos parecidos com o longa do McKay: Armageddon (1998; dirigido por Michael Bay), “Impacto Profundo” (Deep Impact; 1998; dirigido por Mimi Leder) e até outra comédia como “É o Fim” (This Is the End; 2013; dirigido por Evan Goldberg e Seth Rogen) já mostraram a angústia e a histeria coletiva que um terrível acontecimento como um asteroide destruidor de planetas poderia causar na população.
Porém, a principal diferença de “Não Olhe para Cima” para esses exemplos, e a repercussão que gerou, tem nome: pandemia de Covid-19. Não é à toa que, no Brasil, quem já assistiu ao longa tenha feito comparações das personagens com personalidades da política e da ciência. Para completar, como não poderia deixar de ser, o elenco com Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Rob Morgan e Jonah Hill é maravilhoso e um grande chamariz.
O filme não é perfeito, mas tem de tudo um pouco do que nossa sociedade acompanhou nos últimos anos e essa sensação de reconhecimento com a vida real faz com que a gente se sinta por dentro do que acontece na trama de maneira mais pessoal. Há perfis diferentes de cientistas (DiCaprio, Lawrence e Morgan), que acreditam e se apoiam na luta de fazer o governo (Streep e Hill) compreender a situação e tomar uma atitude que salvaria o planeta. A imprensa (Cate Blanchett e Tyler Perry) que só quer saber de audiência; o empresário multimilionário excêntrico (Mark Rylance) que vê no cometa uma oportunidade de mais empregos e avanços tecnológicos, porém, de forma irresponsável e completamente egoísta; há até o militar sem caráter (Paul Guilfoyle). No meio de todo esse contexto, temos ainda a trilha sonora de Nicholas Britell que é divertida e tira o peso da gravidade de toda a situação.
Não há metáforas ou alegorias para que sejam decifradas em “Não Olhe para Cima” como alguns comentários arrogantes no Twitter mostraram. McKay chega a ser categórico de que nossa sociedade se dividiria com relação a uma extinção em massa por meio de um cometa. Algumas pessoas olhariam para os céus e outras levantariam o movimento “não olha para cima” sendo manipuladas por governos negacionistas. Ainda que não tenha levantado discussões que explodam nosso cérebro, o longa deu um gás diferenciado a temas batidos na tentativa de fazer as pessoas pensarem, e conseguiu.