MANUAL DO ANSIOSO(A) POR SARAH MILANI
Ao me descobrir com ansiedade minha primeira reação foi repelir qualquer contato das pessoas mais próximas como forma de me proteger de possíveis julgamentos que só existiam na minha cabeça.
Quando as coisas foram voltando ao normal ao passo que me sentia segura para retomar meu lugar na sociedade e principalmente na vida das pessoas que eu amo, sentia medo das coisas não serem mais como antes. De ter perdido o meu espaço na vida das pessoas. De ter sido substituída. Fui retomando e me mostrando saudável e me preocupei excessivamente em mostrar que eu ainda era a mesma, que ainda estava ali. Depois dei uma desencanada e entendi que o retorno devia ser gradativo e natural, por mais que às vezes a nossa mente pregue algumas pecinhas para confundir nossa cabeça e nos fazer sentir PRETERIDOS. Isso é muito triste.
Você já se sente meio fora por ter adoecido, sente culpa por ter se ausentado e ainda administra uma sensação de ser pequeno a ponto de perder importância em pouco tempo (meu caso 3 meses).
Ao mesmo tempo, estar presente cansa e o entorno às vezes sufoca e a gente pede um pouco de espaço para lidar com as nossas paranoias sozinhos. E é normal e está tudo bem. Todo mundo precisa de um tempo às vezes. Demora até a gente achar o equilíbrio exato entre compartilhar e se preservar para não apertar aquele gatilho da ansiedade que logo coloca 1001 possibilidades catastróficas em nosso imaginário apenas para rir do quanto achamos que não podemos ser amados e que somos difíceis e insignificantes demais para os outros.
Loucura os padrões de auto comparação com pessoas que não fazem o menor sentido e das quais sequer seríamos parecidos um terço que seja. Dor imensa achar que tem que se provar novamente e o tempo todo para aqueles que amamos com todo nosso coração e que guardamos num espaço muito bem escolhido mesmo durante toda a tempestade. Mas é ignorância e injusto achar que todo mundo vai reagir do mesmo jeito frente a uma crise de ansiedade própria ou de terceiros. Cruel imaginar até mesmo que eles não tinham o direito de substituir alguém que se ausenta – seja qual for o motivo. Ninguém é feliz 100% sozinho.
A verdade é que toda essa cena e principalmente esse cenário completamente apocalíptico das relações destruídas pela ansiedade são, na verdade, uma ilusão que a mente criou para a gente acreditar que é um pouco menos e que sentimento não é sobre reciprocidade e naturalidade. Então é continuar amando do tamanho que puder amar e entregando o que puder entregar e protegendo e guardando quando sentir que há de guardar. E esperar. Passar. Ta. Tudo. Bem. #ManualDoAnsioso by Sarah Milani