03abr 19

MÃE DE PRIMEIRA VIAGEM: A MONTANHA RUSSA QUE É A MATERNIDADE

 

Não, não sou mãe e não tenho planos à longo prazo de ter filhos, embora a maternidade compulsória e a sociedade me digam o contrário. Mas acompanho a saga de muitas mulheres que pensavam como eu e ressignificaram suas vidas após se tornarem mães.

Você sabe que sua vida está prestes a mudar para sempre quando está esperando seu primeiro filho, mas é quase impossível saber exatamente como as coisas serão diferentes. Isso provavelmente porque, tanto quanto a maternidade é sobre fazer mudanças logísticas (olá, nova rotina de sono!), também é sobre fazer mudanças emocionais específicas para você e seu bebê.

Para esclarecer essas mudanças misteriosas, conversei com a comunicadora e artista visual, Danielle Cruz, 32 anos, e dona do blog Mais Magenta.  Do pequeno e um tanto hilário ao profundo e emocional, suas respostas revelam o que é essa fase intensamente pessoal da vida. “Talvez dizer que não queria ser mãe seja exagerar um pouco. A verdade é que eu não acreditava que seria capaz um dia. E, por isso, tomei como verdade que não teria filhos nunca”, trecho tirado do blog da Dani.

 

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Nascemos, filha. Meu relato de parto tá no blog com um textão e fotos do melhor dia da minha vida! Link na bio 🙂 📸: @olharmamifero #mamaegenta #homebirth #partodomiciliar

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Viviane Leone: Como você reagiu ao descobrir a gravidez?
Dani Cruz: Fiquei feliz e triste. Foi um choque mas fiquei super emocionada. Demorou um tempo pra cair a ficha!

Viviane Leone: Foi algo planejado?
Dani Cruz: Sim e não. Nunca havia pensado em ser mãe, comecei a cogitar a hipótese pouquíssimo tempo antes de engravidar, foi só falar com meu companheiro sobre isso que acabou acontecendo. Coisa do destino mesmo hehe.

Viviane Leone: Qual foi a maior mudança de pensamento de antes de ser mãe para agora?
Dani Cruz: Muda absolutamente tudo. Mas principalmente deixei de julgar outras mães. Quando não temos filhos não fazemos ideia do que as mães passam.

Viviane Leone: Já sofreu alguma crítica dura pela sua forma de levar a maternidade?
Dani Cruz: Já, o tempo inteiro, desde a gravidez. Todo mundo acha que pode dar pitaco na gestação e no filho dos outros.

Viviane Leone: O que você pensa sobre glamourização da maternidade?
Dani Cruz: Um desserviço. Ser mãe é legal e lindo, mas também muito solitário e difícil. Tem que falar dessa parte também.

Viviane Leone: O que ninguém conta sobre ser mãe?
Dani Cruz: Descobri que contam muito pouco sobre o que é ser mãe de verdade. Não falam sobre a solidão materna. Que os amigos somem. Que bebês fazem cocôs explosivos. Que o puerpério dura muito mais que 40 dias.

Viviane Leone: Sobre parto humanizado: o que te fez optar por ele?
Dani Cruz: Acho que a humanização deveria ser uma escolha óbvia e o padrão, não o ponto fora da curva. Era a melhor escolha para nossa saúde e pro nosso estilo de vida. Nenhuma mulher quer sofrer violência obstétrica. O único jeito de reduzir as chances de isso acontecer é com profissionais humanizados na equipe de parto.

 

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A masculinidade tóxica impede que muitos homens vivam momentos como esse. Eles não tem estrutura emocional pra parir com suas parceiras, ou acham que o pai não tem papel no parto. Não sei o que faria sem o Rafa ali comigo: ele me deu força, amor, massagem e água por horas a fio. No pós parto, cuidou de nós duas com carinho e dedicação. Sei que pouquíssimas mulheres tem a possibilidade de ter um companheiro assim, mas não acho que tenhamos que aceitar isso. Podemos criar nossos filhos pra que eles sejam pais presentes em todas as etapas do processo. Pra que não tenham medo de sentir e se entregarem também. Parindo Catarina, parimos também a mãe que sou e o pai que ele é. Nascemos como família juntos. Trocamos fraldas juntos pra ir mais rápido. Revezamos, nos dividimos e também compartilhamos. Não é utopia, não é sorte: é possível. Que seja sempre assim! 📸: @olharmamifero

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Viviane Leone: Qual maior desafio enfrentou até agora?
Dani Cruz: Todo dia tem um desafio novo. Quando a gente acha que superou, Catarina entra numa fase nova com desafios novos. Mas acho que o maior desafio é o lance da solidão, mesmo. Me despedir da vida que eu tinha antes. A vida de agora não é pior, só é diferente. Mas nunca vai ser igual e lidar com isso é difícil.

Viviane Leone: Faria algo diferente após o nascimento da Catarina?
Dani Cruz: Fiz tudo o que podia fazer da forma que eu acho melhor pra nossa família, desde que ela nasceu. Claro que podia ter sido mais confortável por questões financeiras, por exemplo. Mas as decisões que tomei, tomaria todas de novo!

Viviane Leone: Como é a relação do papai da Catarina e como vocês dividem as tarefas?
Dani Cruz: Ele é um ótimo pai e faz tudo que eu faço, só não amamenta. Esteve comigo em todos os momentos do parto e isso foi essencial no dia. Infelizmente preciso dizer que tenho sorte, porque sei que não são todos os homens que agem assim. Estamos juntos nessa luta.

Viviane Leone: Como vc lida com o novo corpo?
Dani Cruz: Acho que é um processo longo de aceitação. A verdade é que agora que estou conseguindo pensar mais sobre isso porque os primeiros meses são muito atribulados, a gente se distancia de si mesma. Estou dando tempo ao tempo pra que eu possa entender quem é essa nova mulher e isso também é sobre o corpo físico.

 

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Hoje uma amiga perguntou porque eu não postava mais fotos minhas, só fotos da Catarina ou de nós duas. Tem dois motivos: primeiro que ela é a coisa mais linda que eu já vi. Mas o motivo maior é o seguinte: nos dois primeiros meses depois de parir eu perdi a sensibilidade na pele da minha barriga. Não sei se isso é comum, mas vários dias passei bons minutos após o banho passando a mão ali e não sentindo nada. Era como se houvesse um buraco. Aquele não era meu corpo, não era eu. Não sinto saudade nenhuma da gravidez, não era o luto da barriga, mas o luto de um corpo que eu aprendi a amar e nunca mais vai voltar a ser o mesmo – como todo o resto. Algumas semanas atrás meu cabelo começou a cair e minha auto estima foi pro lixo numa pedrada só. Não por falta de cabelo – pode acreditar que ainda tem uma senhora peruca nessa cabeça – mas foi uma chamada pra realidade: olho pro meu rosto, meu cabelo, meu corpo e não me reconheço. Minhas roupas não me servem mais, estão grandes ou apertadas. As poucas que ainda visto parece que não combinam mais comigo. Estou há mais de um ano sentindo dor – as dores da gravidez, o enjôo, dores nas costas, azia, o parto, o pós parto, a cicatrização da vagina e da alma, hemorróidas, mastite, inflamação no ombro. Não me sinto bonita, mesmo com todo mundo falando que eu tenho um brilho diferente agora. Não sei quando vou ter tempo de me reencontrar, mas é frustrante recomeçar um caminho que demorei tanto a percorrer – o da auto aceitação. Agora preciso aprender a amar essa nova mulher que vejo no espelho, com mais rugas e cabelos brancos, o peito um maior do que o outro, as estrias nas coxas. Não tem lição de moral aqui (nunca tem), só um desabafo. Que nós, recém-paridas, tenhamos a força pra caminhar essa trilha de reencontro com nós mesmas. Como sempre, vamos juntas.

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Viviane Leone: Como você lida com haters sendo mãe e até onde você considera saudável expor o bebê. Qual é o limite?
Dani Cruz: Eu deleto e bloqueio. Às vezes recebo umas críticas absurdas nas redes sociais e até tento debater, porque acredito no poder da conversa, mas a maior parte das vezes me arrependo porque muita gente só está ali pra criticar, não para dialogar. Acho que a quantidade de exposição tem que ser decidida em cada família. Eu adoro tirar e postar fotos, minha filha é a coisa mais linda do mundo e eu não ia conseguir não postar foto dela. Mas tenho visto muitas crianças de 3, 4 anos que já pedem pra mãe não filmar nem postar coisas. Se a Catarina for assim, vou respeitar também. A verdade é que eu posto muito sobre meus pensamentos, fotos e tal, mas sobre o nosso dia a dia e nossas questões pessoais eu sou cada vez mais reservada. Quem me segue acha que me conhece muito, mas não é verdade porque tem muitas camadas aqui (de alegrias e de tristezas, sou cheia de problemas como todo mundo) que não mostro por não me sentir à vontade em compartilhar – vem muito julgamento quando o faço. Além disso eu tenho tomado o cuidado de nunca postar em tempo real quando estamos em algum lugar. Sempre tiro foto e faço vídeo para postar no stories depois, por exemplo. Tem muita gente louca no mundo.

Viviane Leone: Que dicas você deixa para as mamães de primeira viagem?
Dani Cruz: Estudem! Se informem sobre amamentação. Frequentem rodas de gestantes. Tenham uma doula no parto. É difícil, mas melhora!

 

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Parece que o universo me mandou uma pequena carnavalesca. Obrigada por me fazer reencontrar a criança que tava perdida em mim, filha 🎉

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E você tem filhos ou planos de se tornar mãe? Conta pra gente aqui nos comentários.

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