MÃE DE PRIMEIRA VIAGEM: A MONTANHA RUSSA QUE É A MATERNIDADE
Não, não sou mãe e não tenho planos à longo prazo de ter filhos, embora a maternidade compulsória e a sociedade me digam o contrário. Mas acompanho a saga de muitas mulheres que pensavam como eu e ressignificaram suas vidas após se tornarem mães.
Você sabe que sua vida está prestes a mudar para sempre quando está esperando seu primeiro filho, mas é quase impossível saber exatamente como as coisas serão diferentes. Isso provavelmente porque, tanto quanto a maternidade é sobre fazer mudanças logísticas (olá, nova rotina de sono!), também é sobre fazer mudanças emocionais específicas para você e seu bebê.
Para esclarecer essas mudanças misteriosas, conversei com a comunicadora e artista visual, Danielle Cruz, 32 anos, e dona do blog Mais Magenta. Do pequeno e um tanto hilário ao profundo e emocional, suas respostas revelam o que é essa fase intensamente pessoal da vida. “Talvez dizer que não queria ser mãe seja exagerar um pouco. A verdade é que eu não acreditava que seria capaz um dia. E, por isso, tomei como verdade que não teria filhos nunca”, trecho tirado do blog da Dani.
Viviane Leone: Como você reagiu ao descobrir a gravidez?
Dani Cruz: Fiquei feliz e triste. Foi um choque mas fiquei super emocionada. Demorou um tempo pra cair a ficha!
Viviane Leone: Foi algo planejado?
Dani Cruz: Sim e não. Nunca havia pensado em ser mãe, comecei a cogitar a hipótese pouquíssimo tempo antes de engravidar, foi só falar com meu companheiro sobre isso que acabou acontecendo. Coisa do destino mesmo hehe.
Viviane Leone: Qual foi a maior mudança de pensamento de antes de ser mãe para agora?
Dani Cruz: Muda absolutamente tudo. Mas principalmente deixei de julgar outras mães. Quando não temos filhos não fazemos ideia do que as mães passam.
Viviane Leone: Já sofreu alguma crítica dura pela sua forma de levar a maternidade?
Dani Cruz: Já, o tempo inteiro, desde a gravidez. Todo mundo acha que pode dar pitaco na gestação e no filho dos outros.
Viviane Leone: O que você pensa sobre glamourização da maternidade?
Dani Cruz: Um desserviço. Ser mãe é legal e lindo, mas também muito solitário e difícil. Tem que falar dessa parte também.
Viviane Leone: O que ninguém conta sobre ser mãe?
Dani Cruz: Descobri que contam muito pouco sobre o que é ser mãe de verdade. Não falam sobre a solidão materna. Que os amigos somem. Que bebês fazem cocôs explosivos. Que o puerpério dura muito mais que 40 dias.
Viviane Leone: Sobre parto humanizado: o que te fez optar por ele?
Dani Cruz: Acho que a humanização deveria ser uma escolha óbvia e o padrão, não o ponto fora da curva. Era a melhor escolha para nossa saúde e pro nosso estilo de vida. Nenhuma mulher quer sofrer violência obstétrica. O único jeito de reduzir as chances de isso acontecer é com profissionais humanizados na equipe de parto.
Viviane Leone: Qual maior desafio enfrentou até agora?
Dani Cruz: Todo dia tem um desafio novo. Quando a gente acha que superou, Catarina entra numa fase nova com desafios novos. Mas acho que o maior desafio é o lance da solidão, mesmo. Me despedir da vida que eu tinha antes. A vida de agora não é pior, só é diferente. Mas nunca vai ser igual e lidar com isso é difícil.
Viviane Leone: Faria algo diferente após o nascimento da Catarina?
Dani Cruz: Fiz tudo o que podia fazer da forma que eu acho melhor pra nossa família, desde que ela nasceu. Claro que podia ter sido mais confortável por questões financeiras, por exemplo. Mas as decisões que tomei, tomaria todas de novo!
Viviane Leone: Como é a relação do papai da Catarina e como vocês dividem as tarefas?
Dani Cruz: Ele é um ótimo pai e faz tudo que eu faço, só não amamenta. Esteve comigo em todos os momentos do parto e isso foi essencial no dia. Infelizmente preciso dizer que tenho sorte, porque sei que não são todos os homens que agem assim. Estamos juntos nessa luta.
Viviane Leone: Como vc lida com o novo corpo?
Dani Cruz: Acho que é um processo longo de aceitação. A verdade é que agora que estou conseguindo pensar mais sobre isso porque os primeiros meses são muito atribulados, a gente se distancia de si mesma. Estou dando tempo ao tempo pra que eu possa entender quem é essa nova mulher e isso também é sobre o corpo físico.
Viviane Leone: Como você lida com haters sendo mãe e até onde você considera saudável expor o bebê. Qual é o limite?
Dani Cruz: Eu deleto e bloqueio. Às vezes recebo umas críticas absurdas nas redes sociais e até tento debater, porque acredito no poder da conversa, mas a maior parte das vezes me arrependo porque muita gente só está ali pra criticar, não para dialogar. Acho que a quantidade de exposição tem que ser decidida em cada família. Eu adoro tirar e postar fotos, minha filha é a coisa mais linda do mundo e eu não ia conseguir não postar foto dela. Mas tenho visto muitas crianças de 3, 4 anos que já pedem pra mãe não filmar nem postar coisas. Se a Catarina for assim, vou respeitar também. A verdade é que eu posto muito sobre meus pensamentos, fotos e tal, mas sobre o nosso dia a dia e nossas questões pessoais eu sou cada vez mais reservada. Quem me segue acha que me conhece muito, mas não é verdade porque tem muitas camadas aqui (de alegrias e de tristezas, sou cheia de problemas como todo mundo) que não mostro por não me sentir à vontade em compartilhar – vem muito julgamento quando o faço. Além disso eu tenho tomado o cuidado de nunca postar em tempo real quando estamos em algum lugar. Sempre tiro foto e faço vídeo para postar no stories depois, por exemplo. Tem muita gente louca no mundo.
Viviane Leone: Que dicas você deixa para as mamães de primeira viagem?
Dani Cruz: Estudem! Se informem sobre amamentação. Frequentem rodas de gestantes. Tenham uma doula no parto. É difícil, mas melhora!
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