22jul 20

APRENDENDO A LIDAR COM A INSEGURANÇA – PARTE I

Aprendendo a lidar com a insegurança - Parte 1

Me deliciava com um  enorme pedaço de bolo enquanto me distraia  no Twitter, passei um bom tempo devorando cada atualização de coronavírus possível. Logo,  me peguei perguntando: existem maneiras melhores de lidar com isso? Então, sentei no meu sofá e coloquei no Youtube um canal de meditação, tendo o cuidado de respirar conscientemente por cinco minutos. 

É claro que foi preciso uma crise de saúde global para que eu meditasse, algo que toda a Internet e mais de um terapeuta estão dizendo para fazer há algum tempo. Acontece que eles estão certos que isso ajuda em momentos de ansiedade. E agora, isolada em casa e ficando meio louca, não tenho desculpa para evitá-lo.

Estava conversando com uma amiga sobre como tem sido difícil me olhar no espelho e gostar do que vejo. Assim como, tem sido difícil praticar yoga e exercícios, sem descontar a ansiedade na comida. Até o fato de postar uma foto onde me sinto bonita me faz me sentir uma fraude, quando passo tempo procurando o melhor ângulo ou um filtro que me beneficie melhor. Me sinto uma impostora fingindo um bem-estar, assim como.me sinto ansiosa quando vejo no Instagram pessoas conseguindo treinar, meditar e comer direito quando pra mim isso tudo é mais difícil e doloroso do que um parto. 

A realidade é: o distanciamento social apresenta um conjunto único de desafios para todos nós.  O estresse adicional e a falta de estrutura que estamos enfrentando agora podem facilitar a adoção de hábitos que fazem a gente se sentir bem por um momento, mas que se tornam prejudiciais a longo prazo e podem desencadear culpa e distorção corporal. 

A UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) divulgou recentemente um estudo preliminar que indicou que casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram durante o período da pandemia, já a depressão teve aumento de 90%. Além disso, as mulheres são mais propensas a sofrer com a doença, em especial as que continuam trabalhando, porque se sentem ainda mais sobrecarregadas acumulando tarefas domésticas e cuidados com os filhos em casa. Outros fatores de risco são a alimentação desregrada, doenças preexistentes e a necessidade de sair de casa para trabalhar.

Naturalmente: para todas as fotos lindas que aparecem no feed de uma mulher em um lugar paradisíaco, com um look novo ou corpo perfeito existem as partes não documentadas da mulher no trabalho, ganhando dinheiro para que ela possa viajar para uma região incrível ou discutindo com seu parceiro se podem pagar uma viagem ou em pânico com as cobranças do cartão de crédito que ela acumulou durante uma viagem ao tal lugar. A imagem nas mídias sociais conta apenas uma parte da história: “Estou feliz hoje”. “Aqui está algo bonito.” “A luz me favoreceu bem.”

Costumava culpar as revistas e os anúncios por perpetuar padrões de estilo de vida e beleza inatingíveis para as mulheres. Agora, com a onipresença das mídias sociais, particularmente o Facebook e o Instagram,  uma inocente foto se tornou culpada por fazer  que, assim como eu, outras mulheres se sintam inadequadas com elas mesmas, e isso tudo é muito doido. Mesmo que a definição de “real” de uma mulher não é a mesma de outra… Bom, isso é assunto para outro post.

Como lidar com a era da exposição?

Quando você recebe um fluxo interminável de imagens perfeitamente escolhidas, é fácil aceitar a ideia de que todo mundo está realmente vivendo sua #melhorvida. Acredito que todos estamos aprendendo a lidar com a perfeição que vemos nas redes, nessa “era da exposição”. Só não podemos esquecer o que é vida real, e o que foi editado para alguém também se sentir bem. É ai, que  muita gente se perde, e isso gera um mar turbulento de insegurança dentro de nós. 

Não há nada de errado em devorar um ou mais pedaços de bolo, ou ficar sem se exercitar regularmente, afinal a pandemia afetou a saúde mental de todo mundo de alguma forma. Mas, exatamente por todos estarem mal que temos que ficar atentos com os sinais da ansiedade, estresse e outras doenças que podem desencadear nesse período. 

Se você sente que ver as fotos do dia a dia de outras pessoas está te afetando, quem sabe seja o momento de fazer aquela limpeza nas pessoas que você segue, ou mesmo, reavaliar o peso que as redes sociais tem na sua vida. Afinal, quando algo não está nos fazendo bem, deve ser evitado, certo?

Pensando nisso que a gente percebe que o fato de se olhar no espelho e se sentir confiante e confortável com o próprio corpo, tem tudo a ver com os estímulos positivos e negativos que recebemos e as diversas referências que somos impactados durante a vida. Já parou pra pensar em como toda essa bagagem pode nos levar a um caminho depreciativo e perigoso para nós mesmas? 

Tenho feito um exercício simples, que tem me ajudado a ressignificar como lido com a exposição e com tudo que sou impactada nas redes sociais. Parte disso é uma auto análise para entender como e porque as fotos de pessoas felizes, satisfeitas com os seus trabalho e que sempre viajam me afeta tanto. A partir daí olho para dentro de mim e avalio o que isso me causa. Se fico feliz com a conquista e boa vida dos meus amigos, então está tudo bem. Caso contrário, diminuo a frequência de acesso às redes até que as ideias estejam em ordem.

Afinal, quando falamos sobre ter autoestima, se sentir bonita e confortável com o próprio corpo, tem muito a ver com a saúde mental e como lidamos com as nossas inseguranças.   

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