22dez 20

ANITTA: MADE IN HONÓRIO E A GLAMOURIZAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL

Anitta made in honorio serie netflix

A série documental Anitta: Made in Honório, foi lançada na quarta-feira (16/12), e repercutiu nas redes sociais. Não pela habilidade da cantora em ser multitarefa, ou por sua visão de negócios como empreendedora, mas por sua inadaptabilidade em liderar e gerenciar equipes. 

A cena polêmica acontece no quinto episódio, onde ela aparece aos berros no telefone, irritada devido a um erro de sua equipe. A poderosa se pronunciou em seu Instagram. “Infelizmente é real. Nessa cena não são funcionários meus que estou falando, são meus sócios. São as pessoas que tenho para sair de mim, extravasar”. 

Os fins não justificam os meios, durante toda a série, bailarinos e funcionários atestam o temperamento explosivo da cantora e o medo constante de errar. No vídeo, podemos ver a cena que foi alvo de críticas, já utilizada num contexto de meme.

Anitta esconde o assédio moral sob o viés de “eu sou assim mesmo, eu mostro a realidade” uma tentativa de justificar o injustificável. A Netflix, em apoio a cantora, trocou sua mensagem na bio do Instagram. A ação de coibir os ataques desrespeitosos é entendível, mas o copy utiliza o termo “falar mal”, sendo assim, isso nada mais é do que impedir o direito de expressão das pessoas se oporem ao comportamento tóxico de Anitta.

Netflix e anitta

Muito se comentou a postura de liderança abusiva que a cantora demonstra ter. Mas o que ninguém falou é sobre os efeitos a longo prazo desse tipo de liderança. No caso de organizações que devem identificar supervisores abusivos e oferecer-lhes treinamento de prevenção de abusos para contornar seu comportamento hostil. No caso de Anitta, quem é o responsável por apontar esse comportamento? O público? As marcas?

A liderança abusiva é subjetiva porque o mesmo funcionário pode perceber o comportamento de um supervisor como abusivo em um contexto e não abusivo em outro, e porque funcionários diferentes podem diferir em sua avaliação do comportamento do mesmo líder. Também é sustentado porque o abuso provavelmente continuará até que seu alvo termine o relacionamento, ou o agressor termine, ou modifique seu comportamento. Além disso, a liderança abusiva é intencional porque os responsáveis pela violência se envolvem em comportamento abusivo por uma razão como causar dano ou ferir os sentimentos de outras pessoas ou até mesmo obter alto desempenho na tarefa.

Pesquisas indicam que o comportamento abusivo de supervisores geralmente leva à frustração, alienação e sentimentos de desamparo dos funcionários. A supervisão abusiva também está associada a atitudes e comportamentos adversos no trabalho, bem como a níveis reduzidos de bem-estar.

Um líder abusivo pode rebaixar seus subordinados e aumentar seu medo de punição se eles agirem moralmente ou se manifestarem a favor de seus princípios éticos. O que leva os funcionários a evitar bater de frente e aliviar o comportamento hostil de seus chefes.Na verdade, pesquisas anteriores mostraram que os funcionários são mais propensos a responder a supervisores abusivos, envolvendo-se em comportamentos de evitação. O que a longo prazo pode desencadear ansiedade e depressão. 

Mais do que um “cancelamento de internet”, esperamos que esse feedback social sirva de alerta para que não somente ela, mas organizações comecem a olhar com mais atenção para o comportamento daqueles que estão em uma posição de poder. Assim como patrocinadores que ao investir dinheiro num artista, estão validando e recompensando financeiramente um comportamento que deve ser reprovado. 


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