18dez 18

TATUADOR, GAY E MUITO ESTILOSO, OBRIGADA DE NADA

Conheci o Guilherme Morphosi, hoje, recém casado e que atende por Guilherme Christofoletti, sobrenome herdado do atual marido André Christofoletti, após o show da Adore Delano. Com um estilo bem “pirigótico”, é quase impossível não dar aquela encarada quando você passa por ele. Como sou muito cara de pau, já cheguei perguntando da jaqueta maravilhosa que ele usava (meu sonho de princesa gótica até hoje).

Trocamos nossos perfis do Instagram e imagine só minha surpresa ao descobrir que além de fashionista, ele também era tatuador. Aos 26 anos, formado em arquitetura e urbanismo, exercendo a profissão de tatuador há quase dois, o talento do rapaz que nasceu no interior de SP, morou por dez anos em Poços de Caldas e resolveu se arriscar na cidade cinza que é São Paulo, reflete muito um estilo autoral único em suas criações.

 

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Mas engana-se quem pensa que São Paulo foi a maior aventura do jovem que estudou arquitetura na Itália e morou em Roma onde descreveu ter a sensação de poder ser mais livre no quesito preconceito. Que sofreu inclusive, de outros colegas de profissão. “Muita gente, principalmente no início não me dava credibilidade por eu não ter cara/pose de tatuador tradicional, barbudo, machão. E eu sempre achei isso um elogio. Tive muita dificuldade de me aproximar de tatuadores mais antigos justamente por isso, eles não viam em mim uma capacidade de ser bom como eles, o que me fez sempre trabalhar sozinho desde o início. Uma vez em um evento de tatuagem em que eu estava representando artistas LGBTQ+, um tatuador me agrediu verbalmente e quis partir pra agressão física por dizer que “eu não pertencia àquele mundo, não tinha que estar ali”, foi uma situação bem complicada”, conta.

Hoje ele atende no West Ink na unidade do Circus Hair Augusta, e abriu o coração sobre sexualidade, preconceito e, claro, tatuagem.

 

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VIVIANE L: Sempre quis tatuar?
GUILHERME C: Eu sempre tive uma paixão imensa por tatuagens e todo tipo de modificação corporal, e quando estudei arquitetura na Itália tive muito contato com a arte mais “pura” por assim dizer, e decidi que era aquilo que eu queria pra minha vida. Não queria ficar em um escritório de segunda à sexta sem ter contato com as pessoas. Queria trabalhar com algo que pudesse ter um impacto direto sobre a vida de alguém, e consequentemente esse impacto se manifestasse em mim mesmo. Todos os dias conheço pessoas novas, com histórias, com sentimentos e vidas que sempre me acrescentam de alguma forma positiva. E a tatuagem foi o caminho que encontrei de ter isso.

VIVIANE L: Como você define seu estilo?
GUILHERME C: Meu estilo está sempre em transição, assim como minha vida. Tento sempre fazer qualquer tipo de tatuagem da forma mais autoral e única possível. Eu sinto dificuldade em encaixar meu trabalho em uma única denominação, porém, tenho muitas influências do blackwork e da aquarela que são minhas duas linhas principais de raciocínio.

VIVIANE L: Alguns estúdios fazem flash day com foco no público LGBTQ+. Você já fez ou pretende fazer? O que acha disso?
GUILHERME C: Acho isso sensacional e estou planejando um Flash Drag Day com as drags incríveis de SP que pude conhecer e fazer o debut da minha drag (sim, serei uma drag tatuadora hahahaha). Eu acho maravilhoso trazer a galera LGBTQ+ pro mundo da tatuagem que ainda tem o machismo e a homofobia tão presentes.

VIVIANE L: Você tem um estilo visual muito próprio, se veste quebrando os padrões. Como isso reflete na sua arte?
GUILHERME C: Acredito que o jeito que eu me visto reflete totalmente na forma como crio minha arte porque a vida é uma grande criação. Nós somos telas que podemos adicionar aquilo que bem queremos. É a grande beleza da liberdade, ser quem é, ser quem quer ser. As roupas assim como as tatuagens são uma tradução disso, são uma forma de transmitir a essência. Essência essa que eu tento mostrar nas roupas, na minha arte e na minha vida.

VIVIANE L: Você pretende investir no mercado de roupas costumizadas?
GUILHERME C: Meu maior sonho. Já tenho em mente uma coleção inteira pra lançar, mas me falta tempo (e um pouco de organização também). Mas no primeiro semestre de 2019 essa coleção sai, em nome de Lady Gaga.

VIVIANE L: Como o seu trabalho contribui para causa LGBTQ+?
GUILHERME C: Acredito que meu trabalho contribui para causa LGBTQ+ por ser um profissional abertamente gay e mostrar pro mundo que nós podemos exercer a profissão que quisermos, que nossa sexualidade não é um fator que deva minimizar nosso talento, nosso profissionalismo. Nós existimos em todas as profissões e merecemos respeito e reconhecimento.

VIVIANE L: Como busca inspiração para os seus desenhos?
GUILHERME C: Busco inspirações em absolutamente tudo o que vejo, principalmente nas pessoas. Morar em São Paulo tem sido incrível principalmente pela pluralidade de pessoas. música, séries, sonhos, arte clássica, tudo isso é inspiração pra mim.

VIVIANE L: Quais dificuldades encontrou quando resolveu seguir a carreira?
GUILHERME C: Acho que a principal dificuldade foi não ter apoio de outros tatuadores para me ajudar, então tive que me criar sozinho nisso. A maioria dos tatuadores que conheço começaram como aprendizes de outros tatuadores e isso ajuda muito. No meu caso foi na raça mesmo e muita força de vontade. Outra dificuldade foi conseguir fazer com que minha mãe aceitasse que eu não tinha o perfil de um escritório de arquitetura. Ela demorou pra entender, achava que eu estava trocando o tempo que investi estudando fora, uma carreira “estável” por algo incerto. Ela demorou pra aceitar que eu sou muito mais feliz assim. Hoje em dia ela é uma das pessoas que mais me apoiam.

VIVIANE L: Você é um tatuador incrível, como o Guilherme era visto na escola?
GUILHERME C: Guilherme na escola era um menino que sofria muito bullying por ter um estilo de se vestir muito diferente. Quando eu era adolescente sempre gostei de ter cabelo comprido, usar maquiagem, roupas pretas e tudo mais que me desse vontade. A primeira vez que pintei as unhas e os olhos de preto foi com 13 anos, e as pessoas não aceitavam isso, principalmente quando fui estudar em uma escola muito elitista de pessoas com a cabeça muito fechada. Tinha muito contato com meus professores, principalmente os de literatura que adoravam o jeito que eu era, sempre me presenteavam com livros, principalmente de terror, e apoiavam eu ter um estilo que fosse diferente dos demais.

VIVIANE L: Quais dificuldades você enfrentou e acha que te fizeram mais forte?
GUILHERME C: Acredito que a principal dificuldade que enfrentei foi a auto aceitação. Sempre fui muito orgulhoso da minha sexualidade, isso nunca esteve em pauta na minha cabeça, mas tinha muita dificuldade em aceitar meu lado artístico, por incrível que pareça. Acho que por toda a pressão externa que sofria acabava por pensar que era algo errado a se fazer. Fiquei anos sem desenhar, sem me maquiar e sem me vestir da forma como eu queria. Hoje em dia já me libertei muito disso e acredito ter saído dessa fase muito mais forte e seguro daquilo que eu sou e do que eu quero pra mim.

VIVIANE L: Você é recém casado, aliás, parabéns! Como se conheceram?
GUILHERME C: Eu e mozão nos conhecemos pela internet. Ele tinha acabado de se mudar pra cidade que eu morava mas ficamos 10 meses sem nos conhecer pessoalmente até que ele como um bom ariano decidiu tomar as rédeas da coisa e me chamou pra sair. Pode parecer clichê, mas foi amor à primeira vista, nunca tremi tanto em um encontro como foi com ele. Ele é meu melhor amigo e um companheiro maravilhoso de vida. Nos casamos e fomos comemorar no lugar em que a gente saiu a primeira vez, foi incrível e muito simbólico pra gente.

VIVIANE L: Nessa nova etapa da sua vida, quais os planos para 2019?
GUILHERME C: Caramba, muita coisa. Primeira de todas é deixar minha drag nascer, já passou da hora e eu sinto ela gritando na minha cabeça querendo sair. Quero muito voltar a estudar arte e pintura, acredito que vai agregar muito na minha profissão, além de ser um tema que eu sou apaixonado. Estou me planejando para estudar moda também, quero me profissionalizar nisso. Quero cuidar da minha linha de roupas que estou planejando agora para o primeiro semestre. E principalmente dar mais atenção à minha saúde física e mental, tô aprendendo que ninguém é de ferro hahaha.

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