23mar 18

ROCI COSTA: O TATUADOR DA ZONA SUL QUE VOCÊ PRECISA CONHECER

tatuagem

Lembro quando conheci o Roci, o Orkut estava bombando e ele usava uma foto preta e branca segurando uma câmera como avatar. Quem acompanhava a banda Fall Dawn, na época, meados de 2012, poderia encontrá-lo fotografando fosse no Afonson (estúdio de gravação na Cidade Dutra, zona sul de São Paulo, ou na extinta Tribe House.

A primeira tatuagem de um dos membros da antiga banda, Renato Bueno, ex-guitarrista e atual Desenvolvedor iOS (30), foi com ele. Confiança que vem de longa data. Quando perguntado sobre a qualidade que mais admira no amigo, Renato nem pensou muito. “Eu gosto da honestidade e da perseverança do cara”, disse.

Desenho feito para o Renato

Outro membro da Fall Dawn, Dudão Fonseca, publicitário (30), confiou várias partes do corpo ao amigo, inclusive uma das nádegas. Mas quem pensa que essa foi a tatuagem mais “diferente” que o Roci fez, está muito enganado. O desenho foi pensado para ser uma assinatura e não só isso, o significado é bem mais profundo. “Meu pensamento é que a gente é um simples produto pro mercado. Uma tattoo praticamente anti capitalista. Acho que se a gente tivesse um código de barras ele seria na nuca ou na bunda”, explica.

O esforço como artista foi a principal qualidade que encantou Bárbara Freitas, esposa, e mãe da linda filha do casal, exceto quando o assunto é trocar as fraldas da pequena. “Pra ele nunca tá bom, sempre tem algo novo a aprender. Aaah, é amante do que faz (isso é uma das coisas que mais acho lindo), nasceu pra isso, nasceu pra fazer arte, pra ser um artista. Sei que ele é um ótimo pai independente de qualquer coisa sei também que, se depender dele, teremos uma futura tatuadora em casa”, diz ela. Se depender de ambos a pequena Mell, de apenas nove meses, vai esperar até os 18 anos para ter sua primeira tatuagem esculpida no corpo.

Apesar de parecer longe para os desavisados, a “viagem” até Interlagos na zona sul de São Paulo, vale a pena. Foi lá que assisti de camarote a sessão do meu irmão, que entalhou um machado realista no antebraço. O resultado foi tão incrível que valeu a dor (infelizmente o lazarento não tirou foto #chatiada).

Roci Costa, é natural do Ceará e veio pra cá com apenas dois anos de idade, com aproximadamente seis anos de carreira, ele já se destaca por seu estilo realista. Tendo tatuado inclusive, no Tattoo Week. Além disso, o artista acumula alguns prêmios.

Confira abaixo, o bate papo com ele.

Viviane Leone: Antes de ser tatuador você trabalhava como fotógrafo, principalmente de bandas da cena paulistana. Por que resolveu mudar de direção profissional?
Roci Costa: A cena caiu bastante, então fui para casamentos. Logo conheci o Tony e como eu já desenhava, comecei a me encantar com o mundo da tatuagem e descobri que isso é a minha vida.

Viviane Leone: Quem são suas referências gringas e brasileiras no universo das tatuagens?
Roci Costa: Steve Butcher, Dmitry Samohin, Nikko Hurtado, José Lopez, Big Meas, Mario ex-Tattoo You, Alexandre Ribeiro, Tony Gomes, e Muitos outros..

VL: Você é especialista em qual estilo de tatuagem?
Roci Costa: Realismo Black and Gray, e Caligrafia.

VL: Qual foi a tatuagem mais complexa que você já fez em uma pessoa e quantas horas durou?
Roci Costa: Teve várias, mas uma dela foi a do “Cristo”que foi feita para Convenção Tattoo Week, que duraram 06 meses, 10 sessões de 08 a 10h cada uma. Foi o primeiro trabalho grande que fiz, não imaginava como seria o resultado, mas ganhei o reconhecimento de vários tatuadores que admiro, mesmo não sendo premiado.

VL: A dor é relativa, mas quais partes do corpo você não aconselha tatuar pra quem tem a sensibilidade muito aflorada?
Roci Costa: Sinceramente eu nem aconselho a tatuar (rrsrsr), mas varia muito de pessoa. Mãos, dedos, pés, costela.

VL: Tem algum tipo de desenho que você não faça?
Roci Costa: Sim, tribal e maori.

VL: E qual foi a tatuagem mais bizarra que você já fez?
Roci Costa: Foi a reforma de um Pinóquio em um cara. Não me pergunte mais nada. rsrsrsr

VL: As minhas duas primeiras tatuagens foram com anestesia, mas eu ouvi dizer que muitos não trabalham com isso, porque é proibido. Isso é verdade?
Roci Costa: Sim. Porque a pele fica “esponjosa”, não fica “viva”para receber o pigmento. Eu não recomendo.

VL: Se tatuar estando bêbado pode causar problemas de cicatrização?
Roci Costa: Não. O problema estar no que você faz estando bêbado. rsrsrsr.

VL: Quantas tatuagens você já fez, aproximadamente, nesses anos de carreira?
Roci Costa: Não tenho noção. Nunca pensei em contar. Mas sei que são muitas, muitas e muitas.

VL: Como você descobriu que tinha talento para ser tatuador?
Roci Costa: Foi por acaso, sem nenhuma intenção. Quem me descobriu foi a tatuagem.

VL: Você tem quantas tatuagens no seu corpo?
Roci Costa: Muitas, muitas e muitas. Por volta de 70% do corpo tatuado.

VL: Você já sofreu preconceito pelas tatuagens que possui ou por ser tatuador?
Roci Costa: Acredito que sim. Os olhares..

VL: Você tem uma filhinha recém nascida. Você vai apoiar se ela quiser seguir seus passos como tatuadora?
Roci Costa: Com certeza.

VL: Com quantos anos você vai deixar ela fazer a primeira tatuagem?
Roci Costa: Com 18.

VL: Tem algum outro estilo que você queira se especializar?
Roci Costa: Um estilo que estou estudando bastante é o Sketch.

VL: Você acredita em curso de tatuador?
Roci Costa: Não. Eu acredito em ser autodidata.

VL: Um tatuador do seu gabarito, fortalece muito a zona sul. Você já sofreu algum preconceito por tatuar fora do centro de São Paulo?
Roci Costa: Já sim, duas vezes. Quando a cliente soube onde ficava o estúdio, falou coisas que não me agradou. Talvez não por maldade, mas tava nítido o preconceito pela quebrada.

VL: Você esteve nos EUA, recentemente. Conseguiu fazer algum networking por lá?
Roci Costa: Sim, a primeira viagem serviu como teste. Como vi que deu certo, retornei e tenho planos de ir mais vezes.

VL: Você já tatuou em algum estúdio? Porque não continuou lá?
Roci Costa: Sim. O motivo de não ficar é porque busco um lugar que tenha a maneira mais próxima que eu gosto de trabalhar.

VL: Tem planos de abrir um novo estúdio em outra região?
Roci Costa: Tenho sim, em breve.

VL: Você já pensou em abrir oportunidades para ensinar jovens que queiram seguir carreira assim como você?
Roci Costa: Já sim, mas só quando eu tiver meu espaço.

VL: Que conselho você dá pra quem quer iniciar nessa carreira?
Roci Costa: Desenhar muito, fazer muita tattoo, olhar muitas serem feitas, perguntar sempre e nunca parar de estudar.

Por .

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