CONHEÇA O ESTILO DE TATUAGEM DE MARCELO MAZUCATTO
Conheci o Marcelo (Mazuca para os íntimos) ,31 anos, signo de leão (se é que isso importa), quando trabalhávamos em agências que compartilhavam o mesmo escritório, ele designer gráfico e eu social media. Veja bem, ele não tem cara de pessoa simpática à primeira vista e é até um pouco intimidante, mas bastam cinco minutos de conversa pra você se deixar levar pelas histórias de viagens e séries como Sons of Anarchy. Inclusive, ele é ótimo para indicar séries não só como tatuador,
Levando o designer e o amor pela tatuagem lado a lado, confiei um pedaço do meu corpinho para ele, já com a certeza de que iria amar o resultado final. Queria um desenho que representasse meu pai e mãe, então nada melhor do que duas rosas com o detalhe quase imperceptível das iniciais “R” e “M” em cada ponta delas. Esta abordagem para capturar narrativas pessoais e criar algo novo é predominante no estilo dele como tatuador.
Se você estiver procurando por uma tatuagem no melhor estilo sketch, então dê uma olhada em algumas dessas imagens de cair o queixo. Marcelo atende na Cardeal Arcoverde, em um dos pontos mais conhecidos de São Paulo em Pinheiros, o estúdio é dividido com a parceira de profissão, que ele carinhosamente chama de Guéres (Tainá Camilo). Graduado em Design Digital, sempre teve uma influência muito forte da mãe a Leonir, que buscava fazer com que os dois filhos fossem criativos e que buscassem uma solução para as adversidades.
Viviane Leone: Há quanto tempo trabalhou como design?
Mazuca: Essa pergunta é muito boa, antes de tatuar eu vim de uma longa jornada entre agências de publicidade e indústrias gráficas, posso dizer que esse foi meu segundo começo na área das “artes”. Trabalhei nesse setor de 2006 a 2017 confesso que travava uma batalha dentro de mim e ao passar os anos fui sentindo uma angústia muito grande em saber que aquela “arte” que estudei nunca foi exercida triste mas é uma realidade do mundo publicitário.
Viviane Leone: Quando você começou a se interessar por tatuagem?
Mazuca: O interesse para pela tattoo veio em 2016, eu já estava buscando uma nova renda sem precisar me vender como sempre fiz nas agências, então tive apoio de amigos que acreditavam no potencial dos desenhos que já vinha trabalhando e da minha namorada que nesse ano de 2016 me comprou um Kit Tattoo, algumas tintas, uma máquina de traço e disse: “Agora é a hora” kkkkk e foi desde então. PS (valeu mozão, sempre me apoiando).
Viviane Leone: Durante um tempo você trabalhava com design e como tatuador. O que fez pesar mais um lado do que outro?
Mazuca: A transição do design para a tattoo foi difícil, pensei que seria mais fácil (risos) mas confesso que não, porque dentro do Design eu já era conhecido, tinha uma reputação peças e trabalhos desenvolvidos para grandes marcas e nisso você vai ganhando nome, reconhecimento. Quando vc decide trocar de área tem que ter em mente de que ninguém te conhece, ninguém sabe da sua trajetória e reconquistar tudo isso é uma nova construção, tijolo por tijolo até formar seu castelo, e ainda não cheguei no segundo andar. Precisa de muita perseverança acreditar no seu potencial e se divulgar saber se vender vender seu trabalho porque agora o chefe é você mesmo como diz a Tainá Camilo: “quem não é visto, não é lembrado” fica a dica.
Viviane Leone: Em quais artistas você busca inspiração?
Mazuca: É uma lista grande, entre o passado e presente, pela minha formação em Design, não posso deixar de mencionar Dalí, Da Vinci, Moholy Nagy, Walter Gropius, Van Gogh e trazendo um pouco das minhas referências, na tattoo, gosto muito do trabalho do Horiyoshi, Fredão Oliveira, Zóio Tattoo, Lydia Madrid, Tony Donaire e James Tex.
Viviane Leone: Quer se especializar em qual estilo?
Mazuca: Apesar de beber em várias fontes desde o old school, neo tradicional, oriental, entre outros. Busco um trampo mais Sketch um traço solto e sempre tudo no black work.
Viviane Leone: Você gosta de rock, caveiras, curte viajar e tem um estilo diferente pra séries como: Sons of Anarcky e Peaky Blinders. Como isso tudo te influencia como artista?
Mazuca: Acho que vou traduzir tudo em “estilo de vida”, durante a nossa evolução a gente sofre muitas interferências externas e internas, que vão nos moldando. E devo isso ao meu Pai José Mazucatto que entre acertos e erros me mostrou essa valorização do que nos faz feliz. E claro, consequentemente é refletido nos meus desenhos e nas minhas tattoos, acho que a gente não pode perder nunca essa essência de quem nós somos e do que gostamos de fato, por mais que lhe digam ao contrário, “faça o que tu queres pois é tudo da lei”.
Viviane Leone: Existe algum tipo de tatuagem que você não faria nem pagando muito?
Mazuca: Tem sim, tatuagens de momento ou aquelas que são moda em um determinado tempo, é algo que o meu cliente pode se arrepender, então eu costumo conversar muito antes e entender o conceito da tatuagem e claro se eu tiver como expor minha opinião ou dar uma luz eu vou ajudar.
Viviane Leone: Se você pudesse escolher um estúdio fora do país pra fazer um intercâmbio, qual você escolheria e por quê?
Mazuca: haha essa é boa, já pensei nisso aliás venho pensando, mas acho que iria para SACRIFICE BCN é um estúdio em Barcelona que tem os caras mais engraçados tampando junto acompanhem nos stories deles, vc quer fazer parte até mesmo se você não tatua, parece que são amigos próximos e eu tive a oportunidade de conhecer dois dessas caras que tatuam lá o Tony Donaire e o Rodrigo Kalaka os caras são foda no Neo Tradicinal!.
Viviane Leone: São Paulo é o berço de diversos tatuadores do Brasil. Como essa cidade influencia seu trabalho?
Mazuca: Acho que pela oportunidade que ela oferece, existem sim muitos tatuadores em São Paulo pessoalmente conheço muitos também, não cheguei a conhecer outras cidades tatuando, mas sou suspeito de falar porque amo essa cidade e sempre que busquei algo diferente ela me ofereceu e sempre recebeu de braços abertos.
Viviane Leone: Quais são os seus temas favoritos para tatuar e como você aborda a criação de uma peça personalizada?
Mazuca: Os temas são atemporais muito pelo fato de influencia do externo ou do interno, tem vezes que gosto muito de botânico e faço vários desenhos relacionados a esse tema, acho que o tema ajuda sim o artista não fica perdido nos devaneios ou com algum bloqueio criativo, é importante ter um tema nem que seja pra ter uma iniciação na criação dos desenhos. As peças personalizadas são as que eu mais gosto pelo fato de ser um desafio criativo, e a abordagem é tudo nesse momento, acho que pela minha influência do design, acabei aplicando o mesmo método que tinha nas agências, recebo por email ou por Direct no instagram um “briefing” do meu cliente explicando o que é o desenho a ser tatuado, peço também umas referencias, o tamanho da tattoo e o local a ser tatuado e ai o resto é comigo.
Viviane Leone: Qual é o seu primeiro amor: tatuagem ou ilustração?
Mazuca: Ilustração e isso vem dos quadrinhos do Spawn, Whichblade e Batman, Todd Mcfarlane é muito foda!
Viviane Leone: Como profissional de arte /criativo, que conselho você daria a outras pessoas sobre o campo?
Mazuca: Eu poderia dizer algumas palavras de incentivo, mas vou deixar meu relato de como eu fiz não é uma receita de bolo mas cada um pode encaixar em sua realidade, eu juntei uma grana trabalhando em agência de publicidade, e fui fazendo a transição aos poucos. Trabalhava de seg à sex e aos finais de semana tatuava. Vai chegando um tempo que a balança vai pesando mais pra um lado que para o outro, ai entra sua independência e só você pode escolher o que te faz bem e paga as contas e o que só paga as contas. Tem a frase de um filme que carrego comigo: “você decide seu nível de envolvimento dentro do projeto” Fight Club.