29maio 20

CASO ANITTA X LÉO DIAS: ATÉ QUANDO VÃO JULGAR O COMPORTAMENTO FEMININO

ANITTA VS LÉO DIAS TRETAS E BABADOS
imagem: reprodução canal Exitoina Brasil

Vocês devem ter ficado sabendo sobre o babado envolvendo Anitta e Léo Dias. Se você está chegando agora e não faz ideia do que tá acontecendo, basta clicar aqui, e ficar por dentro de tudo. Basicamente, o jornalista Léo Dias tem feito uma série de vídeos acusando Anitta de várias coisas – que podem ou não ter fundamento, mas o que vamos discutir aqui são as colocações machistas a respeito da vida sexual da cantora. 

Em diversos momentos Léo Dias afirma que a cantora usou o sexo como forma de subir na carreira e fez comentários inadequados sobre as suas preferências sexuas.

Como sempre, as mulheres são putas e os homens são, bem, homens.

Na sequência de stories, no Instagram, ou em posts em seu perfil no Twitter, o jornalista apresenta um comportamento passivo-agressivo: Ora faz elogios à cantora, destacando sua competência em administrar a carreira e chegar ao estrelato internacional, ora ataca e tenta minimizar seu talento. “Ela é talentosa mas sabe que não tem voz e não sabe escrever. Por isso ela transava com todo mundo”, disse em seu stories.

Essa é uma tática de longa data, baseada em suposições sexistas de que as mulheres podem ser classificadas como prostitutas, frígidas ou vagabundas: algo que a feminista australiana Anne Summers escreveu em seu livro Damned Whores and God Police. Nele, Summers citou a crença de Caroline Chisholm de que a colônia precisava de “mulheres boas e virtuosas”, e o uso indevido da sexualidade feminina. 

O debate mais amplo registra as diferenças de critérios obviamente muito antigas aplicadas ao comportamento das mulheres em oposição ao dos homens. Já são quase 70 anos desde a publicação do clássico feminista, The Second Sex, de Simone de Beauvoir, no entanto, as mulheres ainda são vistas e definidas por critérios masculinos. Enquanto as virtudes dos homens são frequentemente vistas como múltiplas e universais, as que são relacionadas às mulheres ainda estão vinculadas a códigos morais desatualizados que assumem que nosso comportamento sexual é o principal indicador de quem somos.

Eu mesma já passei por isso no meu relacionamento anterior, onde era constantemente acusada de ser uma mulher promíscua por causa das pessoas com quem quis me envolver enquanto estava solteira. Aparentemente, meu ex não conseguia entender que o número de relações sexuais que tive na vida antes de conhecê-lo não mudava em nada o que eu sou, não me define e não deve servir de régua para medir meu caráter. Essas acusações infundadas, beiram a hipocrisia, já que ele também se relacionou com diversas pessoas ao longo dos 29 anos. Esse comportamento, nada mais é, do que o machismo, não é mesmo? 

Para quem não teve o prazer de ser chamada de promíscua, pode ser difícil entender o impacto profundo que isso pode ter. O valor e a moralidade das mulheres estão intimamente – embora erroneamente – ligados à sua sexualidade . Então “puta” (ou qualquer uma de suas variações) é uma acusação com poder por trás disso. Conheço mulheres que tiveram sua autoestima e psicológico destruídos por acreditarem que o fato de terem uma vida sexual ativa faz delas menos dignas em algum sentido. 

É como se fazer sexo e ser considerada “puta” fosse mais uma identidade do que um rótulo. Mulheres podem pensar diferentemente entre si, exemplo disso é que dentro do feminismo existem diversas linhas de pensamento. No entanto, em nenhuma situação deve- ser aceitar esse tipo de tratamento. Infelizmente, nossa sociedade nos julga dentro de um preceito de valor moral, ligado ao comportamento sexual ainda temos que lidar com certos tipos de comentários negativos.

Para aquelas que já foram chamadas de “puta”, aqui vai o significado: na verdade é uma de nós, e todas nós – especialmente aquelas que saem da linha de alguma maneira real ou imaginária. Tem pouco a ver com o número de nossos parceiros sexuais, ou com o modo como nos vestimos ou paqueramos, ou se fazemos controle de natalidade ou não. Tem a ver com assumir o controle das nossas escolhas e dos nossos corpos. 

Enquanto, homens agirem dessa forma para atacar e diminuir as mulheres, e até mesmo, outras mulheres reproduzirem esse tipo de machismo, todas as conquistas femininas ficam niveladas pelo constante julgamento da forma que sua sexualidade é exercida. Temos que evoluir como sociedade e indivíduos urgentemente. Não podemos mais aceitar isso.

Texto feito em colaboração com Priscila Cirqueira.

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